Quarta-feira, 14 de outubro. 8 da manhã. O sol chegou para ficar. Felizmente. Rejane, de New Jersey, e Thaiz Bell, de São Francisco, ligam cedo: vamos caminhar no calcadão? Combinamos nos encontrar no café-da-manhã. Mas entre uma xícara e outra de bom café brasileiro, fico fascinada com as histórias das representantes de Atlanta e Alabama. Impossível resistir. A caminhada fica reduzida a míseros 30 minutos. Despreparada, arranjo uma caneta emprestada e escrevo no quardanapo.
“Tennessee é onde temos menos gente”, diz Isabel Scarinci, referindo-se à jurisdição do consulado de Atlanta. Ela é psicóloga em Birmingham, saiu do Paraná há 21 anos, e ajuda os brasileiros através de uma rede de profissionais, mas muitos dos serviços, inclusive um progama de radio, são em espanhol. “Nós não temos a história de Boston”, justifica. Rosana Lima, de Atlanta, e Isabel divergem sobre os número de brasileiros na região de Atlanta. Uma diz 15 mil, a outra 30 mil. Rosana conta os brasileiros pelo número de antena da Globo instalada:
- “Há dois anos, tínhamos 22 mil antenas”, atesta.
-Isso não vale para contagem, rebate Isabel. Em Birmingham ninguém tem a Globo.
Em Atlanta tem pelo menos 30 mil brasileiros e o consulado fala em 50 mil, Rosana e Marcidy Barros, também de Atlanta, dão com os ombros em desalento: tem muita gente indo embora e agora no final do ano vai ser pior ainda.
Qual os dois maiores problemas dos brasileiros na area de vocês?, pergunto.
- Falta de documentação, carteira de motorista, e a saúde, não existe atendimento de saúde, as três concordam.
Tem diferença de Boston? Verdade que na área de saúde, nós de Massachusetts até não podemos reclamar, mas quantos serviços e programas já perdemos?
10:10 da manhã estou de volta do calçadão, desta vez devidamente munida de máquina fotográfica e folhas soltas doadas pelos garçons do bar, para a reunião da mídia. Vinte pessoas em torno de quatro mesas, todas querendo falar ao mesmo tempo, mas todas defendendo a mesma reivindicação. Fortalecer a ABII – Associação Brasileira de Imprensa Internacional.
Após mais de uma hora de heated debates, consenso geral: vamos redigir a “Carta do Rio de Janeiro”, exigindo - é isso mesmo, exigindo - , que o governo brasileiro reconheça a importância da mídia brasileira imigrante e a necessidade de tê-la na agenda oficial.
“Nós somos muito importantes para o nosso país” (para sermos ignorados pelo governo), frisa João de Mattos, dono do The Brasilians. “Nossa responsabilidade é muito grande. Hoje existem 108 publicações brasileiras nos Estados Unidos, isto é mais do que toda a mídia brasileira imigrante no resto do mundo. Nós temos um poder inquestionável. Os brasileiros quando querem se informar, não entram nos sites do governo brasileiro, não. Eles lêem os jornais e revistas brasileiros”.
Todo mundo balança a cabeça em concordância. Alí tem representantes de várias publicações, algumas, as mais antigas - como Edirson Paiva, do The Brazilian Times -, Roberto Lima, do Brazilian Voice, Carlos Borges do Press Award e eu de A Notícia. Sentado em um canto da mesa, calado, só observando, está Claudio Schuh, gaúcho, 34 anos vivendo no Paraguai. Há dois anos, ele produz e apresenta um programa de radio em Narangito, ouvido em um diámetro de 100 quilômetros.
- Como é o seu programa, seu Claudio?
Ele seca o suor que teima em descer pelo rosto rechonchudo antes de responder em portunhol (o que instantaneamente me dá saudades do meu pai que morou tantos anos na fronteira): “Nossas comunidades são separadas, isoladas, vivem com medo, oprimidas pelo governo, nós
informamos os direitos deles”.
Que coisa maravilhosa! Lá no interiorzão do Paraguai tem um brasileiro que todos os dias fala no radio para empoderar seus compatriotas.
Deixo a reunião com o peito estufado de orgulho de ser brasileira. Só tenho uma hora para escrever. A tarde promete mais debates acirrados e muito aprendizado. Minha preocupação maior agora é papel. Preciso de um calamaço para eu anotar tudo que vejo e ouço.
Thursday, October 15, 2009
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